domingo, junho 12, 2005

Simples, mas não simplista

O que fazer quando já não há nada a fazer:

“Mandei-lhe uma carta em papel perfumado
e com letra bonita eu disse que ela tinha
um sorrir luminoso tão quente e gaiato
como o sol de Novembro brincando de artista nas acácias floridas
espalhando diamantes na fímbria do mar
e dando calor ao sumo das mangas
Sua pele macia – era sumaúma…
Sua pele macia, da cor do jambo, cheirando a rosas
sua pele macia guardava as doçuras do corpo rijo
tão rijo e tão doce – como o maboque…
Seus seios, laranjas – Laranjas do Loje
seus dentes… – marfim…
Mandei-lhe essa carta
e ela disse que não.

Mandei-lhe um cartão
que o amigo Maninho tipografou:
«Por ti sofre o meu coração»
Num canto – SIM, noutro canto – NÃO
E ela o canto do NÃO dobrou.

Mandei-lhe um recado pela Zefa do Sete
pedindo rogando de joelhos no chão
pela Senhora do Cabo, pela Santa Ifigénia,
me desse a ventura de seu namoro…
E ela disse que não.

Levei à avó Chica, quimbada de fama
a areia da marca que o seu pé deixou
para que fizesse um feitiço forte e seguro
que nela nascesse um amor como o meu…
E o feitiço falhou.

Esperei-a de tarde, à porta da fábrica,
ofertei-lhe um colar e um anel e um broche,
paguei-lhe doces na calçada da Missão,
ficámos num banco no largo da Estátua,
afaguei-lhe as mãos…
falei-lhe de amor… e ela disse que não.

Andei barbado, sujo e descalço,
como um mona-ngama.
Procuraram por mim
« - Não viu… (ai, não viu…?) não viu Benjamim!»
E perdido me deram no morro da Samba.

Para me distrair
levaram-me ao baile de sô Januário
mas ela lá estava num canto a rir
contando o meu caso às moças mais lindas do Bairro Operário.

Tocaram uma rumba – dancei com ela
e num passo maluco voámos na sala
qual uma estrela riscando o céu!
E a malta gritou: «Aí, Benjamim!»
Olhei-a nos olhos – sorriu para mim
pedi-lhe um beijo – e ela disse que sim.”

Viriato da Cruz